Copo de uísque

Um Cara Que Não Presta

Segue a descrição plagiada de um site: "O Cara Que Não Presta ao qual me refiro é aquele desgraçado que é inteligente, engraçado, divertido, culto, acha futebol um saco e nunca fala sobre carros. De preferência, ele nem sabe dirigir."

Ali estava eu, sentado naquela velha mesa, tomando meu whisky, como fazia solitário há muitos e muitos anos. Toda noite em que me encontrava naquele bar me isolava de meus próprios pensamentos, de outras pessoas e da dor. Passava o tempo vagando de olhar em olhar, procurando conhecer perfis diversos, apenas pelo seu comportamento, nunca conversando.
Naquela noite, porém, aconteceu um fato que me surpreendeu. Já se passavam as 10 horas da noite quando ela chegou. De cima dos seus saltos de seu boot, toda de preto, com exceção de umas pulseiras e de sua camisa que eram vermelho sangue.
Já havia a visto por ali, fazia um bom tempo. Na outra ocasião havia entrado apenas para comprar um cigarro. Desta, ela se sentou. Abriu o cardápio e começou a correr os dedos pela parte de bebidas. Chamou o garçom, pediu algo a ele em tom de brincadeira, seu sorriso era estonteante. De repente notei que ela apontou para minha mesa, o garçom lhe disse algo e saiu de lado. Ao mesmo momento ela se levantara, estava caminhando em minha direção.
- Com licença. Será que eu poderia sentar-me aqui?
- Fique a vontade.
Sentou de fronte a minha cadeira, cruzando a perna direita sobre a esquerda num movimento mágico, ajeitando sua saia após o ato. Colocou suas chaves na mesa e apagou um cigarro no cinzeiro.
- Eu sei que não me conhece, mas eu conheço você!
Tantas horas ali sentado, litros e litros de whisky, e ainda não sabia que eu era. Todavia, uma jovem que nunca havia falado comigo dizia ter a resposta.
- Ah é? E quem eu sou moça?
- Rafael, e vem sempre a esse bar.
- Ah, claro. Está explicado o que Jorge, o garçom, te contou enquanto olhava para cá. Agora falta me dizer que o whisky que estou bebendo é um JW 12 anos...
- Mas eu sei coisas que um garçom não saberia.
- Bom, e quais?
- Você vem a esse bar para se isolar, pra pensar. Olha as pessoas tentando decifra-las.
- Estou impressionado(e realmente estava). Contudo moça, 80% dos clientes desse local buscam justamente isso. A paz que nesse local habita, é chamativa pra qualquer pessoa que queira pensar em seus conflitos. Você mesma, deve ter vindo por esse motivo.
- Não, na verdade não. Eu vim pra te ver.
Um súbito tremor surgiu em meus joelhos, será que Jorge realmente teria contado meu nome?Ou ela teria outra fonte? Qual seria o real motivo pra ela estar ali?
-Não é primeira vez que venho aqui. Na primeira passei com alguns amigos. Compramos um maço de cigarros...
-Marlboro...light...
-... Exatamente. Como você sabe?
- É o mesmo que você colocou no cinzeiro...
- Naquele momento te vi, você estava com um sobretudo preto, com um copo de cowboy como hoje. E achei interessante.
- E você veio aqui depois de três semanas pra me encontrar, mesmo sem saber que eu estaria aqui?
- Na verdade eu estava com vergonha de falar contigo. Então pedi para meu primo, haha, o Jorge, que me dissesse se te conhecia. Ai hoje...mas, quem disse que fazem 3 semanas que eu vim?
- Você falou...
- Não! É, bem que o Jorge me disse que você era muito observador.
- Mas o que você precisa de mim?
- Ajuda!



continua...